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O que é tecnologia calma e como ela pode te ajudar?

Sergio Wanderley

Atualizado: 29 de out. de 2020

Criados no final do século XX na Califórnia, este conjunto de princípios pouco conhecidos podem nos ajudar a tomar decisões melhores quando consumimos tecnologia.


De acordo com o Wikipedia, a tecnologia calma é um tipo de tecnologia da informação em que a interação entre a tecnologia e o usuário está projetada para ocorrer na periferia do usuário em vez de constantemente no seu centro de atenção. A informação provinda da tecnologia muda suavemente para o centro de atenção do usuário quando necessário, mas quando não se faz necessário permanece de forma calma na sua periferia.


Em 1995, Mark Weiser e John Seely Brown, dois cientistas do Xerox Palo Alto Research Center na Califórnia, publicaram um artigo com o título "Designing Calm Technology". Esta foi a primeira vez que o termo foi utilizado. Estávamos na adolescência da era da informação, período em que a economia nos países industrializados iniciou uma rápida mudança entre o modelo de indústria tradicional, que se originou da revolução industrial, para uma economia baseada na tecnologia da informação. Esta transformação do modelo econômico criou um padrão de consumismo com prevalência de posses materiais sobre valores humanos e de competividade e maximização do lucro das empresas à qualquer custo, o que resultou em alguns problemas:


- Estresse por excesso de informação, o qual ficou conhecido como o "bem mais valioso".

- Dificuldades de concentração, principalmente entre os mais jovens.

- Transtornos de ansiedade e dificuldade de gerenciar o tempo.

- Excesso de horas trabalhadas e baixa produtividade.

- Algumas pessoas vendo gnomos nos seus jardins.

Foto do John Seely Brown
John Seely Brown

É claro que esses são apenas algumas das nossas preocupações e o último sintoma pode ter outras causas. Mas como um pensamento dos anos 90 pode nos ajudar? Para entender melhor, vamos conhecer os princípios que estão por traz da tecnologia calma através de exemplos, para ficar mais fácil de entender.


1) Uma tecnologia deve exigir a menor quantidade possível de atenção do usuário.


Pense em um elevador de um edifício. Você entra, aperta um botão, e ele te deixa no andar desejado. Você não precisa conduzir o elevador até o andar e frear de forma a parar no ponto certo. Dá para conversar com o vizinho sobre o tempo ou ficar olhando para a tela do celular. O elevador não requer sua atenção. Quando ele chega ao destino, ele avisa de forma visual e auditiva. Só neste momento ele demanda a sua atenção.


2) A tecnologia deve informar e proporcionar calma.


A Google em seu projeto de carro autônomo incluiu uma tela de vídeo no banco traseiro para mostrar aos passageiros como o computador estava percebendo o mundo a sua volta, ou seja, o que ele estava vendo. A ideia foi introduzida para reduzir o medo que as pessoas tendem a sentir ao serem transportadas em um carro sem ninguém no banco do motorista.


3) A tecnologia deve fazer uso da visão periférica do usuário.


O painel de um atomóvel é desenhado para que as informações possam ser visualizadas sem que você tenha que concentrar toda a sua atenção para o mesmo quando estiver dirigindo. Para atingir esse objetivo, ele faz uso inteligente de símbolos, sons e cores. Tudo pensado para capturar a atenção da sua visão periférica, mas não virar o centro da sua atenção, a qual deve se manter no ato de dirigir.


4) A tecnologia deve amplificar o melhor dela mesma e da humanidade.


Em outras palavras: a tecnologia tem que trazer impacto positivo para as pessoas e a sociedade.


5) A tecnologia deve comunicar, mas não necessariamente falar.


Parece difícil de entender, mas é simples: Nos EUA, por exemplo, existe uma norma de acessibilidade para os elevadores que exige que os mesmos emitam um bipe quando estiverem subindo e dois bipes quando estiverem descendo, além do sinal visual iluminado, é claro. Esta é uma forma de comunicação simples e universal que funciona muito bem, pois não envolve conhecimento em uma língua específica para ser compreendida.


6) A tecnologia deve funcionar mesmo quando ela falha.


E ela vai falhar. Apenas a falha não pode ser catrastófrica. Um ótimo exemplo para este princípio são escadas rolantes. Elas nunca deixam de ser escadas, mesmo quando não estão funcionando. As pessoas podem continuar subindo e descendo pelas escadas, mesmo tendo que realizar um esforço maior.


7) A quantidade de tecnologia que deve ser aplicada deve ser a mínima para se resolver um problema.


Pense em uma pequena padaria. Em quantas formas você consegue pensar para se gerenciar as filas de clientes? Você pode instalar um sistema informatizado que vai disponibilizar relatórios e vai provavelmente gerar um custo mensal de assinatura. Ou pode instalar um painel eletrônico e um rolo com senhas de papel. Se o objetivo é somente organizar a fila, não há porque usar a primeira opção.


8) E finalmente, a tecnologia deve respeitar as normas sociais.


Como você se sentiria se todas as pessoas que você encontrasse usassem óculos com câmeras que, ao tirarem fotos e gravassem videos não emitissem qualquer sinal sonoro ou visual? Aposto que não muito à vontade. Este foi um dos principais motivos que fez com que um projeto de uma grande empresa de tecnologia, que na época ficou famoso, fracassasse.

Reunião de negócios com muitos gráficos sendo mostrados.

Agora podemos voltar aos problemas que listem no início. Se olharmos com cuidado, podemos notar que eles estão relacionados principalmente a gestão do nosso tempo e da nossa atenção. Nós estamos sobrecarregados e sem tempo para nada, com a nossa atenção disputada a todo momento por empresas que estão nos explorando como parte de um modelo de negócios. A boa notícia é que nós podemos usar a tecnologia calma para tomar melhores decisões de quais produtos de tecnologia vamos escolher para consumir.


A tecnologia calma é uma ferramenta poderosa não apenas para quem cria produtos, mas também para quem os consome.

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